sábado, 10 de janeiro de 2009

Natureza Solitária

Serei sincero: sou um solitário por natureza.
E gosto disso.
O fato de estar sozinho tem seus benefícios.
Gosto de saber que, entre minhas idas e vindas, fica a incerteza de que eu mesmo serei o responsável por minhas escolhas e as conseqüências destas. Não firo ninguém, não machuco ninguém, não desaponto ninguém.
Durante algum evento ou comemoração em família ou amigos, se me sinto entediado posso simplesmente me levantar, me despedir – ou não – e ir embora. Sem me preocupar se a pessoa que estivesse comigo sentia ainda vontade de ficar e ouvir mais conversas que, para mim poderiam soar chatas e sonolentas, mas para outros poderiam ser interessantes.
Não dá para prever o quão interessante alguém pode achar determinada situação ou assunto. Dá para tentar imaginar, mas prever com exatidão, não.
E é essa imprevisibilidade que me deixa desconfortável.
Quando estou sozinho, sei o que quero. Como quero.
Não existe a imprevisibilidade, pois eu me conheço.
Ser um solitário por natureza traz esse benefício também: o autoconhecimento.
Existe a vantagem também de que, por ser parte de minha essência essa solidão, é muito mais fácil para que eu saia dela, a qualquer momento que eu considere adequado.
Mas não se engane, a solidão não é algo simples de lidar.
É preciso uma certa dose de frieza, desapego. E objetividade.
Sou solitário porque sei o que quero. E quando não vislumbro alternativas para conseguir o que quero, prefiro a familiaridade da solidão do que uma companhia momentânea.
E essa objetividade, simples assim, é um peso que muitas pessoas não conseguem se acostumar.
São as pessoas que sentem a necessidade incontrolável de se sentirem desejadas. Que evitam o território desconhecido da solidão, por medo de não conseguirem mais voltar dessa sombra.
Não entendem que, assim como nem toda luz leva a um paraíso, nem toda sombra é moradia de pesadelos.
Quando entenderem isso, entenderão também que não é preciso temer os momentos de solidão. Que, a partir desse entendimento, fica claro o rumo para sair da sombra, a hora que quiser. Fica nítida a certeza de que esse é um dos caminhos inevitáveis por onde andamos às vezes e, por mais cinza e feio que possa parecer, só trilhando é que se consegue ver a beleza e os tons ao redor.
Pensando bem, se todos entenderem isso, o mundo ficará mais triste, vazio.
Toda parte precisa de sua contraparte.
E o meu conforto em ser um solitário por natureza só existe porque alguém, talvez até você, se sinta confortável em ser uma pessoa que prefere muitas companhias do que estar só.
É como se fôssemos parte de um grande quebra cabeças cujas peças possuem apenas dois tipos de encaixe em suas extremidades.
Esse encaixe nas peças que vivem neste planetinha azul chamado Terra é poesia bruta.
E, no final das contas, percebemos que Deus (ou seja lá o nome que sua crença dá ao Criador) é um grande poeta, que faz de nós suas rimas durante as famosas escritas certas sobre linhas tortas.