sábado, 17 de janeiro de 2009

Corpos na chuva

Repentinamente, choveu.
As gotas colando as roupas em seus corpos, naquela tarde, também purificava suas almas e realçava suas sensibilidades.
Sentiam tudo ao redor. Os carros passando nas ruas, as pessoas apressadas para fugir da chuva, os prédios comerciais imponentes e frios, a brisa típica da chuva. Sentiam, simplesmente.
Seus olhares fixos, surpresos, questionando se aquele instante era real ou sonho.
Aquele tempo todo longe, sem notícias. Parecia uma eternidade.
E agora, estavam a poucos metros de distância.
Assustadoramente próximos.
Permaneceram naquele estado de choque por alguns minutos, se reconhecendo, examinando minuciosamente se aquela pessoa logo ali, era de fato quem parecia ser.
Ele deu o primeiro passo. Sempre fora o mais impulsivo.
Ela só se moveu depois que ele percorrera metade do caminho. Parecia não acreditar ainda.
Quando estavam a poucos centímetros de distância, pararam.
Seus olhares quase se tocavam.
Resistiam aos instintos do tato, controlavam suas vontades mutuamente, apenas para preservar aquele momento.
As gotas de chuva em seus rostos simulavam lágrimas que saiam não só dos olhos, mas pelos poros.
Seus corpos choravam, mas estavam felizes.
Suas respirações aceleravam, à medida que a emoção os consumia.
Lembraram de tudo o que havia acontecido, e repentinamente sabiam que ambos se perdoavam.
A chuva expiava seus erros, lavava seus pecados, limpava seus corações.
Ofegantes, se abraçaram.
Ela, a mais fria, enfim chorou. Ele, passional, estava sereno, reverenciando o pranto raro que a mulher vertia.
E ficaram assim, por um tempo que não precisa ser medido.
Apenas vivido.